
Responderam eles, e disseram-lhe: Tu és nascido todo em pecados, e nos ensinas a nós? E expulsaram-no. João 9:34
Fui confrontado com a frase: “Essa igreja é doente”. Discordei veementemente: “É uma com as outras! Temos defeitos, mas, também, muitas virtudes”.
E fui levado a pensar em tudo aquilo que já fizemos por outros e por nós. Era como se aquela frase fosse uma cusparada no prato que se come.
E depois disso, fui tentar viver. Se viver é escolher, e se escolher também é aprender, então, posso dizer que ainda vivo.
Mas, vivo, e sei que somente vivo porque aprendi, mesmo sabendo que esquecerei, até ser lembrado novamente que preciso viver. Porque viver também é reconhecer.
A minha igreja é doente. Espero, na verdade, que ela sinta-se assim. Porque o evangelho da salvação (que é a graça de Jesus) é somente para os que estão mais distantes da perfeição do caráter demonstrado por Cristo, mas que sabem disso.
Jesus mesmo disse que vinha pros doentes. Queres ser perfeito? Impossível. Enquanto isso, aceite a dura realidade: somos doentes. Precisamos conhecer isso.
Para quem está sendo preparado o banquete no céu?
Não se enganem. Não haverá duas festas. Uma pros puros e uma pros desonestos. Existe apenas uma celebração. E ela será somente para aqueles que aceitam sua condição de pecadores inveterados e que não conseguem cumprir totalmente de maneira fiel a parte que lhes corresponde.
Esse é o evangelho da graça. Morton Kelsey diz: “A igreja não é um museu para santos, mas hospital para pecadores”. Isso indica mais ou menos de que lado Jesus está. Ele apóia os feridos. As prostitutas. Os aidéticos. Os políticos corruptos. Você. Eu. Quem quiser aceitar esse dom, não será lançado fora.
E se a festa do céu será com estes ditos pecadores, o que diremos, da nossa igreja? Que devemos aceitar a todos, e muito mais a nossa condição: miseráveis pecadores.
A isso chamamos de viver pela graça. É admitir quem somos e experimentar a bondade de Deus.
Brennan Manning escreveu:
“O evangelho da graça nulifica a nossa adulação aos televangelistas, superastros carismáticos e heróis da igreja local. Ele oblitera a teoria de duas classes de cidadania que opera em muitas igrejas (...). Pois a graça proclama a assombrosa verdade de que tudo é de presente. Tudo de bom é nosso não por direito, mas meramente pela liberalidade de um Deus gracioso. Embora haja muito que podemos ter feito por merecer — nosso diploma e nosso salário, nossa casa e nosso jardim, uma garrafa de boa cerveja e uma noite de sono caprichada — tudo é possível apenas porque nos foi dado tanto: a própria vida, olhos para ver e mãos para tocar, mente para formar idéias e coração para bater com amor. A nós foram-nos dados Deus em nossa alma e Cristo na nossa carne. Temos o poder de crer quando outros negam; de ter esperança quando outros desesperam; de amar quando outros ferem. Isso e muito mais é pura e simplesmente de presente; não é recompensa a nossa fidelidade, a nossa disposição generosa, a nossa vida heróica de oração. Até mesmo nossa fidelidade é um presente. "Se nos voltamos para Deus", disse Agostinho, "até mesmo isso é um presente de Deus". Minha consciência mais profunda a respeito de mim mesmo é de que sou profundamente amado por Jesus Cristo e não fiz nada para consegui-lo ou merecê-lo”.
Por isso, dia a após dia, precisamos ser lembrados por Deus de que existe muita diferença entre aquilo que somos e a graça de Deus em nossas vidas. Somos aceitos, independentemente de sermos maus, infiéis, idólatras, desumanos. Somos aceitos. Eis o mistério.
Em seu livro “O Evangelho Maltrapilho”, Brannan Mannig asseverou:
Há um mito florescente na igreja de hoje que tem causado dano incalculável — a noção de que, uma vez convertido, convertido por inteiro. Em outras palavras, uma vez que aceito Jesus Cristo como meu Senhor e Salvador, segue-se um futuro inevitável e livre de pecado. O discipulado será uma história imaculada de sucesso; a vida será uma espiral nunca interrompida de ascensão rumo à santidade. Diga isso ao pobre Pedro, que depois de professar por três vezes seu amor por Jesus na praia, e de receber a plenitude do Espírito no Pentecostes, tinha ainda inveja do sucesso apostólico de Paulo.
Com freqüência me perguntam; "Brennan, como é possível você ter se tornado um alcoólatra depois de ter sido salvo?" É possível porque eu me senti deprimido e amargurado pela solidão e pelo fracasso, porque me senti desencorajado, incerto, esmagado pela culpa e tirei meus olhos de Jesus. Porque meu encontro com Cristo não me transfigurou num anjo. Porque a justificação pela graça significa que meu relacionamento com Deus foi consertado, não que me tornei o equivalente a um paciente sedado em cima de uma mesa.
Assim, não devemos nos desesperar ao encontrarmos todos os tipos de pessoas em nossa igreja ou em nossa comunidade. Porque elas também se assustam com a nossa presença lá. Assim também será no céu, uma amostra do que era com Jesus na terra, aquele que comia com pecadores.
E certamente não veremos os fariseus, que se achavam muito bons pra merecer a presença de Jesus, como seres acima do bem e do mal. Que criaram um evangelho brutal e baseado em obras rotas. Que não aceitavam conselhos de pecadores (como no verso acima) e não admitiam pecados. O que diremos pois dos conselhos de Jesus? Que eles foram rejeitados por essa classe.
Para esses, não haverá céu, porque lá assistirão apenas “a multidão que queria ser fiel, que foi por vezes derrotada, maculada pela vida e vencida pelas provações, trajando as roupas ensangüentadas pelas tribulações da vida, mas, diante de tudo isso, permaneceu apegada à fé”.
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