
Uma breve adendo sobre o amor. Por que amamos? Por que a jovem ama com tanto fervor o jovem que não está a fim dela? Por que amamos coisas triviais como futebol? Por que o esposo ama a esposa? Por que os pais amam os filhos?
Já dizia James C. Hunter que o amor não é o que se diz, mas o que se faz. A mais pura verdade. Deus, cuja essência é o amor, é verbo. Logo, o amor também é ação.
Pra mim, a maior parte do amor é ação. Somente isso explicaria amar alguém que não está a fim de mim. A recíproca não é da outra pessoa. As ações são nossas. Queremos isso. Almejamos. Investimos. Às vezes, sem resultados.
Por isso torcemos tanto. O jogador nunca vai saber o que eu disse ou fiz, mas, pra mim, amei e dei o melhor de mim pelo meu time. Porque agi, porque decidi amar. Mesmo que ninguém (e certamente ninguém) saiba o que fiz.
Existe amor num pai que espanca seus filhos? Na pretensa cristã que faz um aborto? As palavras e até o sentimento de uma esposa ciumenta não querem dizer muita coisa diante dos fatos e das ações, porque o importante não é dizer, mas fazer.
Enfim, porque os pais amam os filhos? Enjoôs, barriga grande (consequentemente estrias), desejos, alterações hormonais, muito gasto, desconfiança, percalços, dores, dificuldades, privações, são adjetivos que podemos facilmente classificar com a vinda do bebê. Ainda assim, os pais amam a criaturinha. E aqui reside o segredo. Os pais é que investem. O bebê não precisa fazer nada.
Imagina se fosse preciso agradar os pais, a lista seria mais ou menos assim: tem que vir falando inglês, saber dar descarga, assoviar em vez de chorar, e saber fazer pelo menos uma boa macarronada. É no mínimo uma receita surreal. Os bebês e as crianças são amadas não por algo que elas fizeram ou farão, mas porque os pais agiram em direção a essa criatura, com carinho, afeto, segurança, tempo, dedicação, o que explica como mães ainda amam seus filhos delinquentes.
A bíblia diz que quem não for como uma criança, jamais verá o reino do céu (Mat. 18:1-3). Mas, há entre nós um certo legalismo ao dizer que: “devemos ser como crianças porque elas são dependentes”.
A bíblia é clara ao dizer que a nossa justiça é como trapo de imundícia (Isa. 64:6). Nada do que possamos fazer pode nos garantir o céu. Em Efésios 2:8 e 9 Paulo escreve: Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.
Logo, muitas pessoas vão achando que podem alcançar a salvação se forem dependentes de Deus. Mas, a inspiração é clara ao afirmar que somente em o sacrifício de Deus Pai, Filho e Espírito Santo é que temos salvação. Não precisamos fazer mais nada. A fórmula é simples, mas, muitos confundem. Acham que precisam fazer mais. Como se a dependência a Deus precisasse de meu esforço e não de uma obra do Espírito Santo, após aceitar a salvação que existe somente pela força dEle.
Notem que a dependência é um atributo que nem sempre está presente na vida de uma criança. Quantas vezes elas se machucam por não seguirem as ordens dos pais ou tutores? Quantas dores, sofrimentos e preocupações dos pais poderiam ser evitadas se as crianças fossem de todo obedientes e dependentes? Por que uma criança chora para ir a um local que não devia, mesmo estando nos braços de seus pais? Assim, prefiro acreditar que Jesus falava de algo maior, de uma outra característica presente no qual a verdadeira dependência estivesse incluída.
Essa característica é a insignificância. As crianças estão no processo de amor não por seus feitos. São amadas porque os pais escolheram amar. Até mesmo as crianças que são natimortas, recebem o amor de seus pais, mesmo sem ter feito nada por eles. Assim também é o Pai. Deus nos ama sem motivo aparente. Somos seus filhos porque Ele assim o quis, não porque fizemos algo. E aqui está o verdadeiro sentido da frase: “a criança é insignificante”. Não precisamos nem devemos tentar ajudar Deus na tarefa que só a ele cabe: nos salvar. Qualquer esforço de nossa parte será em vão, e vai nos afastar do ideal de Deus.
A criança nem sabe e muito menos força simpatia. Ele não se interessa se você está ou não ligando pro seu choro, sua birra. Ele não irá sorrir, fingir e dar tapinhas em suas costas. Na primeira oportunidade ele vai te olhar no olho e dizer: onde está o biscoito recheado?
"Imagine uma criança pequena tentando ajudar o pai em algum trabalho doméstico, ou preparando um presente para sua mãe. A ajuda pode não ser nada além de ficar no caminho, e o presente pode ser completamente inútil, mas o amor por trás dele é simples e puro, e a resposta amorosa que ele evoca é virtualmente incontrolável. Estou convicto de que a coisa é assim entre nós e Abba. Nos níveis mais profundos e simples, tudo o que queremos é ver um ao outro felizes, ser agradados. Nosso desejo sincero conta muito mais que qualquer sucesso ou fracasso específico.
O ponto central é esse: não há coisa alguma que qualquer um de nós possa fazer para herdar o Reino. Devemos simplesmente recebê-lo como criancinhas. E criancinhas não fizeram ainda coisa alguma. O mundo do Novo Testamento não tem uma visão sentimental a respeito de crianças e não nutre qualquer ilusão sobre alguma bondade inata nelas. Jesus não está sugerindo que o céu é um imenso playground. As crianças são nosso modelo porque não têm qualquer pretensão ao céu. Se estão mais próximas de Deus é porque são incompetentes, não porque são inocentes. Se recebem alguma coisa, tem de ser de presente.
Se queremos captar em toda a sua força o ensino de Jesus aqui, é importante que lembremos a atitude judaica com relação às crianças na Palestina do primeiro século. Hoje em dia, nossa tendência é idealizar a infância como a feliz idade da inocência, da despreocupação e da fé singela, mas no tempo do Novo Testamento as crianças não eram consideradas de qualquer importância e mereciam pouca atenção ou favor. "Crianças naquela sociedade não tinham status algum — simplesmente não contavam". A criança era encarada com escárnio.
Para o discípulo de Jesus, "tornar-se como uma criancinha" significava a disposição de aceitar-se como sendo de pouca monta e ser considerado sem importância. A criancinha que é a imagem do reino é símbolo daqueles que ocupam as posições mais inferiores na sociedade, os pobres e oprimidos, os mendigos, as prostitutas e os cobradores de impostos — as pessoas que Jesus com freqüência chamava de "pequeninos" e de "últimos". A preocupação de Jesus era que esses pequeninos não deveriam ser desprezados ou tratados como inferiores. "Vede, não desprezeis a qualquer destes pequeninos" (Mt 18:10). Ele estava muito consciente dos sentimentos de vergonha e de inferioridade deles, e por causa da sua compaixão eles eram, a seus olhos, de valor extraordinariamente grande. No que lhe dizia respeito, eles não tinham nada a temer. O reino era deles. "Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino" (Lc 12:32).
Jesus concedia a esses desdenhados pequeninos um lugar privilegiado no reino e apresentava-os como modelos a seus candidatos a discípulos. Eles deveriam aceitar o reino do mesmo modo que uma criança aceita sua mesada. Se as crianças eram privilegiadas, não era porque haviam feito de modo a merecer privilégio, mas simplesmente porque Deus agradou-se desses pequeninos que os adultos desprezavam. A misericórdia de Jesus fluía em direção a eles apenas por graça imerecida e divina preferência.
Os bebês de colo (napioi) estão na mesma condição das crianças (paidia). A graça de Deus recai sobre elas porque são criaturas insignificantes, não por causa de suas boas qualidades. Embora possam conscientizar-se de sua irrelevância, isso não significa que lhes serão concedidas revelações. Jesus atribui expressamente a felicidade deles ao bom prazer do Pai, a eudokia divina. As dádivas não são determinadas pela menor qualidade ou virtude pessoal”.
Que possamos ser como crianças: insignificantes, que recebem do Pai uma dádiva imerecida: o perdão, a salvação. Que não pensemos que existam exigências além do fato de receber o amor que Deus demonstra por nós como muito de nossos pais fazem por nós. Que a obra em nossas vidas possa ser completada por Deus de forma que todas as outras coisas nos sejam acrescentadas pelo Espirito Santo.
Um comentário:
Se realmente entendêssemos a amplitide da insignificância seriamos mais felizes!!! Mais a gente "se acha demais"!!! Texto inspirador....a cada dia aprendendo e crescendo!!!!
Deus te abençoe!!!
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